Casamento cigano movimenta acampamento em Bebedouro e festa vai durar 15 dias

São 300 grades de cerveja e quase 700 quilos de carne para celebrar a união de dos noivos que foram prometidos desde criança

Casamento cigano movimenta acampamento em Bebedouro e festa vai durar 15 dias
Muitas comunidades ciganas que vivem no país ainda cultivam tradições de séculos passados. Além do nomadismo de algumas famílias, é comum ver jovens entre 13 e 15 anos casando-se e formando família. Em muitos casos, a união é feita entre parentes. Dançar, comer e beber até de madrugada é obrigatório em qualquer casamento cigano que se preze.
 
E é isso que acontece desde a semana passada num acampamento no distrito de Bebedouro, no interior de Linhares. São 1.400 ciganos de várias partes do Brasil que marcam presença na festança que segue até o próximo fim de semana. A festa é aberta para a comunidade.

Na manhã desta terça-feira (12) dois casamentos foram oficializados pelo padre Vagner Rodrigues, da Igreja Católica Brasileira de Jacaraípe, na Serra. Ele sacramentou a união de Jéssica, de 13 anos, e Soliman, de 15, e de Raquel e Heleno, os dois com 19. 

As noivas chegaram ao acampamento em cima de caminhonetes após desfilarem pelas principais ruas do distrito. Estavam todas de branco. Já a roupa dos noivos foi adaptada a tradição cigana. Tinham coletes e camisas de manga longa, mas, na cintura fivelas enormes e nos pés botas de couro de jacaré.

Os pais dos noivos estavam visivelmente emocionados e nervosos. O pai de Raquel, Lafaiate Soares, disse que a filha sempre soube que estava prometida e está feliz por saber que filha também está. "Tenho certeza que ela irá respeitar o seu esposo por toda a vida”, disse.

O líder do acampamento é conhecido como Teodoro. Ele contou a reportagem do Site de Linhares que os noivos foram prometidos desde que nasceram. Mas, fez questão de ressaltar que durante a adolescência tem o direito de decidir pelo casamento ou não. 

"Eles olham um para o outro e se gostarem o casamento é realizado”, explicou. Teodoro também contou que todos eles estudam. "O casamento é só hoje. Os dias de festa antes da cerimônia são para manter a família junta", assegura o líder.

Noite de núpcias no dia seguinte

Mas, quem pensa que após o tão aguardado sim ao final da cerimônia os noivos já podem pensar na noite de núpcias, se engana. Os ciganos gostam de preservar a sua identidade cultural. À noiva ainda cabe a tarefa de comprovar que vai virgem para o casamento. É condição obrigatória para haver casamento. As anciãs do acampamento verificam se está tudo certo com ela e só depois é que se realiza o casamento.

Mas, as esposas somente são entregue aos maridos pelos pais no dia seguinte. "Nós conversamos com nossas filhas e damos todas as orientações que uma futura esposa precisa saber, principalmente sobre a primeira noite”, disse Vanusa Figueiredo, mãe de Raquel. 
 
O dia seguinte também dedicado à arrumação da tenda dos novos casais. "Passamos o dia ornamentando e arrumando a casa deles”, contou Vanusa. Na noite de núpcias os casais são levados para um local longe do acampamento. "Eles vão para a minha fazenda em Linhares”, confessou Teodoro.

Em geral, segundo o costume, a cigana quando se casa passa a pertencer à família do marido e deve obediência também aos sogros. "Nas comunidades ciganas é comum ver um homem se casando com gadji [não cigana], mas quando são mulheres que se relacionam com não ciganos, a coisa muda e tudo fica mais difícil”, explicou Teodoro.

Muito brilho, cerveja e churrasco

As mulheres do acampamento gostam de usar saias longas com muito brilho, flores no cabelo e acessórios, como pulseiras e brincos. A maquiagem é essencial. Os homens não dispensam o cinto com fivela nem o chapéu de caubói. As canções ciganas cederam lugar à música sertaneja.

E além de muita música, não pode faltar muita bebida e muita comida. Para os quase 15 dias de festa são 300 grades de cerveja e quase 700 quilos de carne. A festa costuma começar por volta das 5 horas da manhã e segue até a meia noite.
 
As fotos são do Site de Linhares.





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