Regência agora é Reserva Nacional de Surfe

Brasil passa a ter quatro Reservas Nacionais de Surfe, uma delas, a praia linharense

Regência agora é Reserva Nacional de Surfe
A expectativa inicial era uma, mas quatro foram escolhidas e agora o Brasil já pode contar com um grupo de localidades que priorizam reconhecer, valorizar e proteger ecossistemas de surfe icônicos, que abrigam atributos ambientais, culturais e econômicos. As praias do Francês, em Marechal Deodoro (AL), Itamambuca, em Ubatuba (SP), Moçambique, em Florianópolis (SC), e Regência, em Linhares (ES), foram selecionadas para ser Reservas Nacionais de Surfe, após anúncio feito no último dia 30 de agosto. 

"Não entrou só uma onda, entrou uma série!  Ficamos muito felizes com este resultado e em anunciar esta seleção que nos permite lançar a Rede Brasileira de Reservas de Surf, contando com picos de notório reconhecimento como importantes ecossistemas de surfe da costa brasileira", comemorou Fabricio Almeida, presidente da APRENDER.

Coordenado pelo Instituto APRENDER Ecologia em uma parceria estratégica com a Conservação Internacional (CI-Brasil), o processo seletivo do Programa Brasileiro de Reservas de Surf (PBRS) contou com a submissão de cinco comunidades do nosso litoral e que possuem o objetivo de transformar seus espaços. 

De acordo com Mauricio Bianco, vice-presidente da Conservação Internacional, a conservação marinha e costeira é fundamental para evitar os efeitos mais drásticos da crise climática. "Milhares de picos de surfe em todo o mundo são cercados por ecossistemas que armazenam grandes quantidades de carbono e apenas cinco países detêm quase metade desse carbono armazenado, entre eles o Brasil", destaca Bianco. 

Esses ecossistemas de surfe em nosso litoral são importantes não apenas para o clima e biodiversidade, mas também geram benefícios socioeconômicos por meio da geração de empregos e renda. "É por isso que a Conservação Internacional se aliou ao Programa Brasileiro de Reservas  de Surfe, que une conservação da natureza, comunidades locais e a prática do esporte", explica. 

As candidatas foram avaliadas em quatro critérios: 1. qualidade, consistência e relevância das ondas; 2. características socioecológicas do ecossistema de surfe; 3. cultura, história e desenvolvimento do surfe no local; 4. engajamento comunitário, capacidade de governança e sustentabilidade da Reserva. 

"O resultado com quatro praias escolhidas ao mesmo tempo reflete o alto nível técnico e de engajamento social das candidatas e que foram avaliadas pelo Conselho Técnico Científico e Núcleo Executivo do PBRS. Além disso, começar com a Rede é muito importante, pois a troca de informações entre as reservas fortalece muito a implementação", celebra Mauro Figueiredo, que coordenou a elaboração do PBRS e é membro da diretoria do National Surfing Reserves da Austrália. 

Próximos passos
A partir do anúncio, as praias selecionadas devem, com orientações do Núcleo Executivo do PBRS, iniciar a formação do Comitê de Gestão Local e a organizar o evento de celebração para a titulação como Reserva Nacional de Surf, que oficializará a nomeação por um período de dois anos. A celebração será seguida pela elaboração de um plano de gestão, que definirá ações e metas a serem realizadas nas comunidades. O Sistema de Monitoramento das Reservas de Surf acompanhará os indicadores e auxiliará na melhoria contínua dos planos de gestão. 

O engajamento social foi um critério muito importante na seleção das Reservas. O PBRS reconhece o valor das ondas de todas as cinco candidatas, porém, sendo um programa baseado na gestão ecossistêmica e participativa, o engajamento da comunidade é essencial para o processo de implantação das reservas.  
Com o avançar do PBRS, a ideia é ampliar as oportunidades para que mais praias no Brasil possam aplicar o modelo baseado nos Programas Australiano e Mundial de Reservas de Surf, este último coordenado pela Save the Waves Coalition. Atualmente, a Guarda do Embaú (SC) é a única representante brasileira no Programa Mundial de Reservas de Surf. 

O Instituto APRENDER Ecologia é uma organização que já atua há  24 anos com ações na zona costeira do Brasil e, inspirado no National Surfing Reserves, da Austrália, desenvolveu um programa especial para o litoral brasileiro. "Vimos que este modelo inovador de gestão participativa baseada em ecossistemas de surf tem um papel potente como ferramenta para conservação de espaços marinhos e costeiros e geração de renda por meio do turismo regenerativo", completa Fernanda Muller, diretora-executiva da APRENDER. 

Regência

 Com ondas perfeitas, longas, tubulares, a praia possui uma singular sociobiodiversidade em um dos mais importantes cursos d'água da costa brasileira, o Rio Doce, que deságua no norte do Espírito Santo, no município de Linhares. A área delimitada para a Reserva Nacional de Surf de Regência Augusta contém vários picos que quebram constantemente ao longo do ano. 

A aprovação da Lei do Direito das Ondas de Regência, em agosto de 2024, foi um marco no reconhecimento da natureza como sujeito de direitos não só no Espírito Santo, mas no Brasil, chancelando a capacidade de engajamento da comunidade. A saúde comunitária e a regeneração da cadeia produtiva dos surfe são as engrenagens da candidatura.




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