Para manter o viveiro de mudas nativas e a busca contínua de novas espécies existentes na flora da Mata Atlântica, técnicos, biólogos, botânicos, entre outros pesquisadores da Reserva Natural Vale (RNV), trabalham na coleta de sementes e plantas em expedições feitas diariamente no meio da densa floresta que fica localizada em Linhares.
Para coletar essas sementes são utilizadas diversas técnicas, como o alpinismo, com escalada em árvores de até 50 metros de altura, além de outros recursos, entre eles a participação de parabotânicos, também conhecidos por "mateiros” – pessoas experientes e com profundo conhecimento sobre espécies de plantas, frutos e sementes – que auxiliam os estudiosos no encontro de espécies raras e até mesmo desconhecidas.
Entre as árvores que apresentam maior dificuldade de coleta de sementes estão espécies como o vinhático e a peroba, por serem altas e difíceis de alcançar a copa, e os Ipês, devido ao curto período da floração e frutificação. Entre as normas da atividade, está a coleta máxima de 1/3 do total de sementes de uma árvore. Também é preciso resguardar as sementes para a própria regeneração da espécie, além de respeitar os animais que consomem e vivem dessa semente.
Nos últimos 30 anos, cerca de 100 novas espécies de plantas foram descritas com base nas pesquisas apoiadas pela RNV. Nos últimos anos, quase 40 novas espécies de flora foram descritas, a partir de material coletado na Reserva Vale.
Novas espécies botânicas encontradas no ES são reconhecidas pela Ciência
Novas espécies botânicas encontradas em fragmentos de Mata Atlântica do Espírito Santo foram oficialmente descritas para a Ciência nos últimos anos. As amostras das plantas que tornaram a identificação das novas espécies possível foram coletadas na Reserva Natural Vale (RNV), e em áreas próximas ao local.
De acordo com o biólogo Geovane Siqueira, curador do herbário (coleção de plantas secas) da Reserva Natural Vale, foram anos de pesquisa e observação na floresta, obedecendo ao ciclo reprodutivo das respectivas plantas, até que se tivesse a certeza de que se tratava, de fato, de espécies botânicas até então desconhecidas para a Ciência.
Batizadas de Cinnamomum baitelloanum, Mezilaurus sessiliflora, Ocotea batata, Williamodendron itamarajuensis e Dinizia jueirana-facao, os novos indivíduos receberam os nomes vulgares de canela vermelha, canela-de-pombo, canela-batata, canela-prata e jueirana-facao, respectivamente.
Siqueira acrescentou ainda que os artigos científicos que descrevem as novas espécies e evidenciam a descoberta foram publicados nas revistas Harvard Papers in Botany (EUA), Phytotaxa (Nova Zelândia) e KEW Bulletin (Inglaterra), que figuram entre as publicações mais relevantes do ramo científico tanto no que diz respeito à flora, quanto à fauna.
Com cerca de 23 mil hectares, a RNV é um dos últimos remanescentes de Floresta de Tabuleiro, uma das formações mais ameaçadas da Mata Atlântica no país, e abriga diversas espécies de flora raras ou ameaçadas de extinção.
Fonte: Correio do Estado, por Wilton Júnior.