Ao término da Guerra Civil Americana, de 1861 a 1865, no final do século passado, um fato histórico veio à tona no livro "Nossa Vida no Brasil – Imigração Norte Americana no Espírito Santo/1867-1868”, produzido e lançado já há alguns anos pelo Arquivo Público Estadual, mais ainda pouco conhecido, principalmente pelos moradores de Linhares.
De acordo com Cilmar Franceschetto, diretor geral do Arquivo Público Estadual, e um dos incentivadores do projeto de publicação do livro, relatos de um diário escrito por uma imigrante norte-americana de Montgomery, estado do Alabama, revelam que entre junho de 1867 e maio de 1868, 316 americanos que foram derrotados na Guerra da Secessão, considerada o marco da abolição da escravatura nos Estados Unidos, se refugiaram no município de Linhares, numa área que fica às margens da lagoa Juparanã.
Os manuscritos são da norte-americana Julia Louisa Hentz Keyes, filha da novelista Caroline Lee Hentz, uma das principais romancistas dos Estados Unidos nos anos anteriores à Guerra Civil nos Estados Unidos.
Um dos livros de Caroline Hentz, "The Planter’s Northern Bride”, apresentava uma defesa do sul escravista, e é considerada uma espécie de contraposição ao livro abolicionista de Harriet Beecher Stowe, "A Cabana do Pai Tomás”.
Residiram às margens da Juparanã
De acordo com dados do Arquivo Público Estadual, os imigrantes vieram para o estado, trazidos pelo coronel Charles Grandison Gunter, um escravocrata americano que teve de fugir, após perder a guerra, vindo a estabelecer-se na região da então vila de Nossa Senhora da Conceição de Linhares. Relatos do livro contam que parte desses americanos que chegaram ao Brasil a convite de Charles Gunter no ano de 1867, ficaram por pouco tempo às margens da lagoa Juparanã.
O tradutor do livro e pesquisador, Célio Silva, contou que Gunter era um ex-membro do legislativo estadual do Alabama e rico fazendeiro produtor de algodão. Ele possuía amplo interesse na manutenção da escravidão nos Estados Unidos e, após o fim da Guerra da Secessão, decidiu fugir, junto a outros sulistas que não aceitaram a abolição dos escravos pelo presidente Abraham Lincoln.
Silva acrescentou que os Keyes tinham relações com a família Gunter e em 1867, foram convidados para se refugiarem no Espírito Santo. Naquela época, Gunter recebeu terras do Governo que ficavam às margens do Rio Doce e da Lagoa Juparanã, local onde os fugitivos de guerra viveram por cerca de um ano. Estudos do livro não conseguiram, por certo, identificar o local exato onde a família Keyes se instalou às margens da Juparanã.
Fonte: Wilton Júnior, para o Correio do Estado